COMO IDENTIFICAR SE UMA PAREDE É ESTRUTURAL?

Introdução

Muitos proprietários de apartamentos se questionam sobre a possibilidade de remover uma parede para realizar a tão desejada reforma. Em prédios mais antigos, é comum que os projetos originais se percam com o tempo. Embora buscar os projetistas originais do edifício seja uma alternativa, a probabilidade de encontrar engenheiros e arquitetos atuantes e com cópias dos projetos de prédios das décadas de 60 e 70 é bastante reduzida.

Durante a construção de um empreendimento, é necessário aprovar o projeto na prefeitura e, posteriormente, arquivá-lo com outros documentos no Cartório de Registro de Imóveis, para que as matrículas individuais das unidades sejam abertas e possam ser vendidas. Algumas prefeituras arquivam esses projetos na secretaria responsável pelo controle urbanístico, mas protocolar uma busca pode ser complicado e muitas vezes infrutífero.

Diante desse cenário, como determinar se uma parede é estrutural?

PAREDE ESTRUTURAL

Primeiramente, o que é uma parede estrutural?

Uma parede estrutural, também conhecida como parede portante, é uma parede monolítica de alvenaria que pode ser não-armada, armada, parcialmente armada ou até mesmo protendida. Sua função principal é suportar cargas além de seu próprio peso, incluindo o peso de pisos, telhados, paredes, lajes e outros elementos do edifício. As paredes estruturais são componentes críticos em uma construção, pois transferem as cargas verticais e horizontais para a fundação, garantindo a estabilidade e a integridade da edificação.

Quais são os conhecimentos necessários para realizar a investigação?

Para alcançar sucesso nas investigações sobre o caráter estrutural de uma parede, é essencial possuir conhecimento especializado sobre estruturas. Isso inclui a compreensão das diferentes nuances construtivas e características das paredes estruturais. Entre essas nuances, destacam-se o conhecimento sobre as Normas Técnicas da ABNT, a compreensão dos aspectos e circunstâncias onde os diferentes sistemas estruturais são mais aplicados, o conhecimento das vantagens e desvantagens dos diferentes sistemas estruturais e o processo de escolha do sistema estrutural ideal para uma edificação. As nuances de análise também abrangem o conhecimento dos materiais empregados em cada sistema, o reconhecimento das características visuais que os distinguem, a capacidade de coordenar investigações por meio de perfurações controladas para examinar a presença de armaduras de aço, entre outros aspectos.

No campo das perícias de engenharia, investigações amplas e minuciosas são fundamentais para um diagnóstico preciso. Neste artigo, exploraremos algumas características das paredes estruturais para ampliar o entendimento e auxiliar tanto engenheiros quanto interessados leigos na análise de uma parede.

EDIFÍCIO EM BLOCOS DE CONCRETO ESTRUTURAL

Qual o processo de escolha de um sistema estrutural para uma edificação?

Na construção, escolher o tipo de estrutura para uma edificação envolve uma análise cuidadosa de vários fatores para garantir que a estrutura seja adequada às necessidades específicas. Ao considerar esses fatores, engenheiros e arquitetos podem tomar decisões informadas sobre o tipo de estrutura mais adequado para cada projeto específico, garantindo que ele seja seguro, funcional, econômico e sustentável.

Os principais aspectos que uma boa engenharia leva em consideração ao escolher a estrutura de uma edificação incluem o uso pretendido do edifício (residencial, comercial, industrial, institucional), que determina as cargas esperadas e os requisitos espaciais. As características do terreno, como tipo de solo, condições geológicas e topografia, impactam diretamente a escolha dos sistemas de fundação e estrutura. É essencial considerar todas as cargas que a estrutura deve suportar, incluindo peso próprio, cargas vivas, de vento e sísmicas. A durabilidade e a facilidade de manutenção dos materiais e sistemas estruturais também são fatores críticos.

A visão arquitetônica e os requisitos estéticos podem influenciar a escolha do tipo de estrutura, especialmente em projetos onde a aparência é importante. A sustentabilidade e o impacto ambiental devem ser considerados, optando por soluções que utilizem materiais sustentáveis e métodos de construção ecológicos. Analisar o custo total de construção, incluindo materiais, mão de obra e manutenção, é fundamental para encontrar um equilíbrio entre custo e desempenho. O cronograma do projeto e os métodos construtivos que permitam cumprir os prazos estabelecidos também são importantes.

Planejar para possíveis mudanças futuras no uso do edifício garante que a estrutura possa ser adaptada ou ampliada conforme necessário. A conformidade com todas as normas de construção e regulamentações locais é obrigatória. Aproveitar as tecnologias mais recentes e técnicas inovadoras de construção pode melhorar a eficiência e a qualidade do projeto. Analisar projetos anteriores e estudos de caso semelhantes ajuda a tomar decisões informadas sobre o tipo de estrutura mais adequado. Assegurar que a estrutura proporcione segurança a todos os ocupantes, resistindo a desastres naturais e outras condições adversas, é essencial. Por fim, a logística de transporte e a disponibilidade local de materiais de construção também podem influenciar a escolha dos sistemas estruturais.

Quais são as vantagens e desvantagens da alvenaria estrutural?

Comparando com o sistema construtivo convencional (concreto armado), essas paredes substituem o papel estrutural das vigas e pilares, oferecendo vantagens e desvantagens ao processo produtivo. Entre essas, destacam-se:

Vantagens:

  • Melhor distribuição das cargas nas fundações, tornando-as geralmente mais econômicas.
  • Redução da quantidade de fôrmas, diminuindo custos e tempo de construção.
  • Diminuição de entulho, principalmente porque não é permitido rasgar as paredes portantes para a passagem de tubulações; os eletrodutos são introduzidos nos vazios dos blocos simultaneamente com a elevação da estrutura.
  • Menor consumo de argamassa de revestimento das paredes, devido ao controle geométrico dos blocos e à manutenção do prumo, nível e esquadro das paredes.

Desvantagens:

  • Limitações estruturais, tornando a construção menos flexível para alterações futuras no layout, pois as paredes não podem ser facilmente removidas ou alteradas.
  • Complexidade para aberturas limitadas para vãos de portas e janelas, pois estas aberturas podem enfraquecer a parede estrutural.
  • Necessidade de mão de obra especializada, o que pode aumentar exigir treinamento específico.

Quais são os materiais usados na parede estrutural?

No Brasil, os principais materiais usados para paredes em alvenaria estrutural são:

Blocos de Concreto:

  • Vazados: São os mais comuns, utilizados tanto em paredes internas quanto externas. Eles oferecem boa resistência e são relativamente econômicos.
  • Maciços: Menos comuns que os vazados, mas são usados em situações que exigem maior resistência.

Blocos Cerâmicos Estruturais:

Fabricados a partir de argila queimada, são leves e possuem boa resistência. Eles também proporcionam bom isolamento térmico e acústico.

Blocos de Concreto Celular Autoclavado (AAC):

Utilizados em menor escala no Brasil, mas ganhando popularidade devido às suas propriedades de leveza, isolamento térmico e acústico, além de facilidade de manuseio e corte.

BLOCOS ESTRUTURAIS

Mas afinal, como proceder na investigação sobre uma parede?

Quando um morador de uma unidade do condomínio deseja realizar reformas que envolvem a remoção de uma parede, e o condomínio não dispõe mais dos projetos estruturais (algo muito comum, infelizmente), a ABNT NBR 16.280/2015 estabelece que essa modificação, por alterar ou comprometer a edificação ou seu entorno, deve ser apresentada à construtora, incorporadora ou projetista. Vale ressaltar que, possuindo ou não os projetos técnicos, essa comunicação é obrigatória conforme a norma citada.

No caso de não haver projetos disponíveis, e sendo possível localizar a construtora, projetista ou incorporadora, eles podem esclarecer dúvidas sobre as características estruturais do edifício. No entanto, em muitos casos de edifícios antigos, isso não é possível devido à falta de documentação que informe os dados dessas entidades, ou porque as construtoras antigas já não atuam mais, tornando impossível consultá-las.

Após essa primeira tentativa, a busca de informações pode ser feita com moradores antigos do edifício ou até mesmo vizinhos que possam ter registros fotográficos da época da construção da estrutura.

A inspeção visual é outro passo importante. Paredes localizadas no perímetro do edifício ou em locais estratégicos, como o centro de um prédio alto, são frequentemente estruturais. Paredes estruturais tendem a ser mais espessas do que paredes de vedação ou divisórias. Além disso, paredes feitas em blocos de concreto ou tijolos maciços são mais propensas a serem estruturais.

Analisar o histórico de renovação do imóvel é igualmente importante. Revisar modificações anteriores pode revelar se paredes foram removidas ou alteradas, indicando possíveis mudanças na estrutura original.

Para identificar a presença de aço embutido na parede ou até mesmo PVC e madeira, faz-se uso de pacômetro, scanner e câmera termográfica. Com esses equipamentos, o profissional pode criar um esboço dos componentes encontrados e evitar acidentes.

Finalmente, caso ainda não esteja claro se a parede tem função estrutural, pode-se realizar perfurações controladas para examinar a presença de armaduras de aço ou efetuar escarificações para identificar elementos estruturais de concreto. Testes de carga também podem ser aplicados às paredes, mas esse método é de maior complexidade e usualmente aplicado para determinar a capacidade de suporte da parede.

BLOCO ESTRUTURAL

Quais características observadas podem confundir a análise?

A análise para determinar se uma parede é estrutural ou não pode ser confundida por várias características que não fornecem uma indicação clara da função da parede. Características visuais e físicas, como espessura, materiais de construção e acabamentos, podem sugerir maior resistência estrutural, mas nem sempre indicam a função real da parede. Paredes mais espessas podem parecer estruturais, mas podem ser apenas paredes de vedação reforçadas. Materiais robustos como blocos de concreto podem estar presentes tanto em paredes estruturais quanto não estruturais, dificultando a distinção apenas pela aparência. Revestimentos externos ou internos podem dar a impressão de uma estrutura mais robusta do que realmente é.

Além disso, os relatos de moradores podem ser imprecisos, especialmente em edifícios com estruturas mistas. É comum que o pavimento da garagem seja construído com pilares e vigas de concreto armado, permitindo maiores vãos para as vagas, enquanto os demais pavimentos são edificados com paredes monolíticas (alvenarias estruturais). Portanto, é crucial não confiar apenas em observações superficiais ou relatos não técnicos ao avaliar a função de uma parede.

GARAGEM COM PILARES E VIGAS EM CONCRETO ARMADO

A localização e posição da parede dentro do edifício também podem causar confusão. Paredes localizadas no centro ou em pontos de junção, bem como aquelas próximas a vigas ou colunas, podem ser vistas como estruturais, mesmo que não sejam. A proximidade de elementos estruturais pode sugerir erroneamente que a parede tem uma função estrutural.

Elementos de reforço e suporte, como barras de reforço visíveis ou conexões com vigas ou lajes, podem sugerir que a parede é estrutural, mesmo que sejam apenas para reforço localizado. A presença de barras de reforço ou outras conexões visíveis com elementos estruturais adjacentes pode ser mal interpretada.

O histórico de alterações e renovações no edifício pode levar a interpretações errôneas. Modificações não documentadas ou reformas podem mudar a função original da parede, levando a confusões. Paredes adicionadas durante reformas podem não ter a mesma função estrutural que as paredes originais, mas podem ser confundidas como tal.

Problemas de documentação e projeto, como documentos desatualizados ou incompletos, podem causar erros na análise. Planos de construção que não refletem modificações posteriores ou que não especificam claramente a função das paredes podem levar a conclusões incorretas. Desenhos técnicos mal interpretados ou erros de projeto também podem contribuir para a confusão.

Tecnologias e métodos de construção modernos, como construções modulares e o uso de materiais modernos, podem confundir a avaliação da estrutura do edifício. Em edifícios modulares, a função estrutural de algumas paredes pode ser ambígua devido ao design e métodos de construção específicos. Materiais modernos, como painéis leves, podem ser usados em áreas críticas e confundir a avaliação.

Inspeções e testes inadequados, como avaliações rápidas e superficiais, podem não revelar adequadamente a natureza da parede. O uso de técnicas de teste inadequadas pode levar a conclusões equivocadas.

Fatores arquitetônicos e estéticos também podem confundir a análise. Elementos decorativos ou decisões de design que não são baseadas em necessidades estruturais podem sugerir erroneamente uma função estrutural. Detalhes arquitetônicos decorativos podem parecer ter função estrutural, mas podem ser apenas estéticos.

Conclusão

Como pudemos verificar, há várias análises que podem ser feitas para identificar as características de uma parede. Também observamos que existem muitas interpretações errôneas dessas análises, reforçando a importância de consultar profissionais especializados para realizar uma análise técnica adequada.

Ainda assim, mesmo identificando que certa parede analisada não é estrutural, sua remoção pode alterar a configuração de deformação das vigas e lajes, provocando fissuras em outras paredes. Em casos mais extremos, há risco de colapso quando a alvenaria não portante estiver exercendo função de suporte (escoramento) para um defeito pré-existente na estrutura.

Cada reforma deve seguir várias normas técnicas aplicáveis ao escopo pretendido, além da legislação municipal que regulamenta as obras de construção civil em cada cidade. Portanto, é essencial contratar um laudo de reformas, que identificará as intervenções planejadas e descreverá os impactos nos sistemas e equipamentos da edificação antes do início dos serviços. Este laudo, geralmente elaborado por engenheiros civis e arquitetos, deve indicar e fundamentar a existência de possíveis interferências na edificação, além de eventuais riscos ou transtornos decorrentes da obra pretendida.

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